Wednesday, June 06, 2007

Cigana das sete

O teu tesouro é dente, minha negra!!
Nem sei, se tú és negra ou branca...
Mais reluz, que nem que ouro.
Guarda em teu sorriso, teus prantos...

Monday, April 16, 2007

3 pontinhos

...
...+...=......

um pedido de tempo+...= tempo...

e o tempo, esse nos traz tantas surpresas...

Duas Ventarolas...

Tem dia que venta forte...

já no outro, venta morno causando buchorno...

e eu sou o vento macio, que envolve meu corpo e o seu nos meus sonhos...

Estou em minhas mãos, boas mãos!!

Continuarei, te encontranto em meus sonhos...

E quem sabe um dia, nossos ventos nos se encontrem.

Thursday, April 05, 2007

travesseiro traidor

quero enforcar todos meus travesseiros...
sim, fofos e macios...
me enganaram, me afastaram de ti...
e agora, o que me resta ...

a grande cama e os quatro travesseiros...

enforcarei um de cada vez...
e deixarei a cama vazia...

Monday, March 26, 2007

navego

navego no meu mar,
me afogo em lágrimas.
me encontro com sereias que me encantam...
me fazem cantar...
na minha ladainha, escuto o sofrer necessário...
aprendo com minhas entranhas , algas, e muito sal...

as lágrimas são salgadas...

Friday, March 02, 2007

Mulher Lula

Quando fui mulher lula...
Meus cabelos eram ruivos e longos, usava um vestido comprido, branco e transparente...
Minha vida, era seguir o curso das águas, e nada mais...
Até que...
Um homem pirata, que vivia com uma mulher seca, como uma caveira...
e tinham como morada o fundo do mar...
Era uma grande cama de casal, viviam felizes, ou morriam felizes...
Não sei, ao certo....
A mulher era uma caveira e seus cabelos eram algas e moluscos...
Já o homem pirata, nem parecia que vivia na água salgada, mantinha sua beleza...
Talvez, esse seja seu mistério...
Sua sedução...
Fui conquistada, sugada...
não tive como reagir....
A grande cama, a mulher caveira e seu pirata me sequestraram...

Friday, February 09, 2007

no mar na mata na cachueira

pra saber conversar com o mar, basta olhar pro vaivém das ondas...
tá ali todo seu mistério, em espuma, quebradeira e sal...
na cachoeira, as pedras e sua areia, que é ouro...
oh, se não é...
no meio da mata, tem seu cheiro, molhado que só é dele...
tem aquela sensação de que algo vai aparecer...
é a sua maneira, de brincar com a gente...
deixando todo aquele e qualquer um, com cabelo atento e olho em pé!!!

Friday, December 08, 2006

Altar da Abadia

Quando olho para um móvel, uma mesa, cadeira, abajur...
Mergulho no meu interior, aquele interior de tardes quentes, de tardes com cheiro de terra vermelha molhada pela chuva...
Aquele interior, das casas com alpendre, de murinho baixo e portao pequeno, de jardim de planta roxa...
De uma casa, que guardei todos relevos de seu chão, todos os seus cantos, banheiro e pia, suas panelas, algumas sem cabo...
As duas mangueiras, de dois irmãos, as raízes da mandioca, os buracos dos coelhos....
Ah, a caixa dágua!!
O quartinho, que a vó guardava os livros, as provas, sua vida de professora...
Como aposentada, não nos deixava, mexer em suas lembranças...
Ali era seu altar, ali era sua vida...
Eu encontrei o meu altar...
Ele vem da casa da vó, ela nem sabe, que eu peguei...
tá na minha alma, e agora chegou a hora de ser exaltado...
O altar de minhas memórias...
Coroado seja, com cheiro da terra vermelha molhada pela chuva...
Coroado seja, com o perfume rastro da minha amada tia Dirce...
Coroado seja, pelas histórias que Lucília me contava...
Coroado seja, pelas amor que tenho por minha vó Justina...
Meu altar já existe e nele encontro minha força, que caminha ao lado de minhas fragilidades...
Eu te consagro, Altar da Abadia.

Friday, November 03, 2006

o quarto da tia

Fui acordada com, um burburinho de família:" quem encontrar a filmadora da Tia Dirce, e fizer o melhor filme, com ela ou a Vó Lucília, ganhará...", nem escutei o prêmio, mas só de ter o poder, de estar dormindo no quarto daTia Dirce, a dona da casa e da filmadora, e ninguém desconfiar disso...me preencheu de esperança, de encontrar a tal filmadora.

Rolei da cama, como uma múmia faria, para que não suspeitassem da minha presença...
Logo estava lá, embaixo de sua cama...A cama da Tia Dirce, com todas suas malas e pacotes de presentes prósperos, que Tia Dirce nos dá...
Bom, a minha função era encontrar bendita filmadora, fazer o filme, sem ninguém me encontrar...
Passou alguém, não sei se foi o meu irmão Luciano, ou a prima Paulinha...
Ah, não quero produtores associados e muito menos dividir o tal prêmio....
Acho que encontrarei a câmera, bem aqui, tá aqui com certeza aqui, nesta bolsa azul marinho de viagem...
ACHEIiiii...
Ai, meu deus, será que alguém escutou??....inspiro e respiro a conquista...
Pronto, vamos ver se tem uma fita ou se...
Ligo a câmera, e está lá...
A imagem da Vó Lucília, que nunca se deixou filmar...e a Nana conseguiu, aquelas imagens me comoveram...

Escutei barulho no corredor e já estavam chegando no quarto da Tia Dirce...

As tais imagens, que minha irmã Nana fez, me lembrou de que, a Tia Dirce já morreu e a vó Lucília também...

Ninguém, conseguirá fazer o tal filme...

E do quanto me senti abandonda, pela morte súbita, da minha Tia Dirce...lembrei de quem chorou muito no velório da Tia Dirce, foi a Vovó Justina, o Beto, meu pai...e Eu...

Eu chorei, derramei muitas lágrimas, lágrimas de recordações...

Lágrimas de que nenhuma câmera filmadora, conseguiria fazer o "Bendito Filme dos que
já foram"...

Tuesday, October 31, 2006

carne viva

Estou em carne viva, com sangue a flor da pele, uma pele, que não existe esta se refazendo, como a cobra faz...
Pra cobra deve ser mais simples...Tem o veneno na ponta da língua, pra proteger...

Eu tenho as palavras, para me proteger...

E cuspo fogo, em sua alma, não somos como as cobras.
Nossa pele, é nossa alma...
E você também esta refazendo a sua...

Gostaria que você tivesse, sangue de barata ou mesmo veneno de cobra...

Wednesday, October 11, 2006

Ah, um pequeno registro...

Um corpo preenchido de palavras...
vazio de coisas, que ainda não sei nomear.
Estou aprendendo a verbalizar.
Aquilo que desconheço, engulo e rasgo o ventre abaixo.
Machuca ter palavras e não saber usar.
Abro um dicionário, de um corpo qualquer, e comparo...
Se dói no dele, se a palavra lhe engasga na guela ou entope seu ânus, também...

Eu estou indo muito bem, obrigada!
Já sei dizer, desculpe me ( bem baixinho, não gosto de registrar a culpa da desculpa, em meu pequeno dicionário).
Na verdade, sempre estou certa !!

E como estou aprendendo, me fodo...
Não existe certo ou errado!
Não existe culpa desculpada, existe dor e palavra fincada e gravada no corpo.

Tuesday, October 03, 2006

cemiterio das rosas judias

Ficava afastado da cidade, numa mata descuidada e pra entrar precisava abrir um portão de ferro todo rococó enferrujado...
e eu ia toda feliz com meu pai, judeu....
eu era loira e ele também...eu era pequena e ele não.
abrimos o portão, ocapim tava bem grande e quase me sufocava, alguns me pinicavam...
e logo vimos, o cemitério das rosas judias...
lá no meio do mato....
um canteiro circular, com rosas selvagens e judias...
me deu vontade de fazer xixi, meu pai nos levou pro banheiro, nos levou...apareceu um irmão, também judeu e ruivo...
e não era grande como meu pai e nem pequeno como eu...e o capim penicava ele também...
o banheiro era velho e largado, como tudo naquele lugar...me escondi atrás da porta de um dos banheiros...
logo, a mão grande do meu pai judeu me achou...
me pegou no colo...
e me levou embora....
do cemitério das rosas judias...
enquanto, meu irmão fechava o portão, meu pai e eu olhavámos, as rosas selvagens...

Monday, October 02, 2006

se eu estivessse naquele momento ali....
não seria nada diferente.
o sol não nasceria de frente, nem aquela velha com dentes...
mas teria um quê de não sei o quê...
que seria diferente...

Tuesday, September 26, 2006

muitas

não vale olhar, nem prá frente trás e lados e nem de fio de olho.
tem que ser de cara limpa, peito aberto, "inspira e respira"...será que existe esta voz feminina , que repetia e repetia...

INSPIRA E RESPIRA....ENCHE O PEITO DE ARRR...
A voz existe, e não tem rugas...ela cuida da pele e INSPIRA E RESPIRA, até hoje...

não adianta me pedir, pra abaixar a luz ou mesmo, acender um incenso, fazer uma dancinnha do oriente, um stripe que esquente....

me vejo, uma Maria Bonita, do risca Faca e queima fogo....
meu homem tem um olho aberto e um fechado, que abre só quando eu me mostro e prá ele...e sem dancinha...

me vejo, também uma atriz italiana, lábios e negros cabelos, de belas voltas e curvas...
e meu homem, continua com um olho aberto e outro fechado, olha o peixe e frita o gato...

me vejo, tantas...
me vejo, vendo outras, nas formas, nos cheiros, nas conquistas...

e meu homem, vejo que ele olha outras, e toma sempre uma tapa( um tapa bem dado)...

eu sou tantas e já me cansei desta, que escreve e se mostra aos poucos...

Sunday, September 24, 2006

nem me conte

não, não falo sua língua.

entendo seus gestos, cheiros e suas intenções...de longe...

tão longe quanto a distância que nos separa e nos une.

seus segredos...

não me interesso por segredos...

eles passam a vida toda nos perturbando, querendo sair, e aí você conta pra alguém...

e eles te expoem da maneira que foi dita, e não da maneira existida, vivida, suada e cuspida.

porra, guardar segredo dói pra caralho...

pode dá hemorróida, cancêr, estomatite e outros ites...ao nosso corpo...

encarregado de carregar nossa alma.

Wednesday, September 20, 2006

NÅO DÅ MAIS PRA SEGURAR...

meus olhos pesam,
minha alma pulsa sai goela afora...
não consigo segurar, juro que não citarei...
"explode coração"...
e o ônibus balança e mistura tudo e todos...
minhas emoções, tão profundas e complexas...
enroscadas nos sovacos e coxas suadas, já falei disso...
não importa...
terei que vomitar minha alma, em alguém...
quem será o vitorioso(a)???
não, não farei isso com essa senhorinha, de cabelo com neutrox puxadinho, com cheiro de desodorante, esta limpa...
não minha alma é limpa e cheirosa como alfazema...
talvez, a senhoria não goste de alfazema, e enfim, ela trabalhou o dia inteiro e eu não acho justo, lavar a senhorinha com minha alma....
descerei no próximo ponto e me encostarei num poste, talvez eu consiga engolir, ela a "alma que tanto quer sair..."

Wednesday, August 30, 2006

terceiro sinal

Que saiam todos desta casa chamada meu corpo...
que esvaziem todos os cantinhos, até os mais aconchegantes...quentes, molhados, frios e asperos...
usarei de força maior, chega de fitoterápicos...

Tuesday, May 02, 2006

Vantagens

Escolhi uma velha sem os dentes...
Bom, um corpo jovem, tem todos os dentes e muita energia pra morder a vida...
Por isso, essa velhinha me agradou, passo o dia sentada, durmo mais que as baleias...
Baleias dormem??
Me escondo, nas rugas, elas falam por si...
Não preciso abrir minha boca, elas logo respondem, as dobras linguarudas...

Thursday, April 20, 2006

Com Rugas



Fui até a padaria, pão na chapa com pingado, e vejo a pessoa certa para a vaga...
Era uma velha senhora de meia idade passada na cara já...
Ofereci a vaga e logo de cara, ela aceitou...
Tem seus dias de vida prolongados agora, a nova velha senhora...

qualquer um

Não precisa ser homem, cabelos castanhos e ter 1,80 de altura.
Pode ser um baixo, estatura mediana e ruivo de cabelo duro...
E se for, mulher, pode ser gordinha, caderuda, loira e gostosona...
Qualquer pessoa serve para preencher a vaga.
Não sou do tipo exigente...
Nem escolhi meu sexo, parentes e nome...
Portanto, qualquer pessoa serve para tomar vaga do meu corpo.

Saturday, April 15, 2006

Dum Ponto ao outro



A distância de algumas coisas, lugares e pessoas...





- coisas: tudo depende da importância, da tal coisa, para que a distância influencie no seu dia, na sua disposição espacial...
- lugares: podemos dizer que, tudo depende da tal importância, também...
- pessoas: marque um ponto, numa estrada de terra vermelha, bem longa e plana, daquelas de perder as vistas no fim dela.
Fique costa/costa, com a pessoa, não olhe para trás, até completar, um tanto de caminhada, quanto maior a distância, menor você fica, e foi assim que eu te vi, lá adiante na estrada...

De tão pequena, bem perto o longe ficou...

Tuesday, April 11, 2006

A parede

Não deixo que me toquem...
Nem esbarrão, aperto de mão, abraço nem pensar.
Até com o toque do telefone, fico desconfiada...
atendo ou não atendo??
Pode ser algum, féla da puta ocioso.

"Féla da puta não nasce, alastra..."
Pai Juá.

Como este, que esta martelando, a parede...
martelar parede, tem que ter, dia e hora marcada...
não é assim, sem mais nem menos...

A bolha

Na minha cabeça tem uma uma bolha.
uma bolha dágua...
daquelas bem cheia, que pesa nos olhos.
se o acaso, estoura-la...
eu derramarei em lágrimas, a água que me fere.

Friday, March 31, 2006

goteira

acordei atrasada pro nada.
de maneira, singela...
gota por gota...
como dedinhos,
dedilhando minha pele...

Wednesday, March 15, 2006

vazia

estou vazia...
nem a azia me preenche....
os acentos sumiram do meu corpo...
cega e sem palavras...
não posso escrever ...
não enxergo nada nas minhas entranhas...
tirei meu pulóver...
joguei minha bengala...
e nada...
nem uma mosca...
sai do meu corpo...
nem um suspiro...
estou morta...
bom, deitarei no meio da sala, perto da mesa de jantar...
nua e cega...
e morta ...
esperarei que algum vizinho ou um verme amigo venha me visitar...

Wednesday, February 08, 2006

De grau

E o telefone que não toca...
AHHHHHHH...
Vou continuar de olhos semi abertos ou semi cerrados, talvez sempre fechados.
Dar uma de cega...
Isso, só uma volta no sofá, quem sabe bate um vento e eu fico cega para sempre…

Assim posso ganhar a vida com esmolas. Não vai ser sempre, e nem precisa ser perto de casa.
Visto meu pullover rosa e meus óculos escuros...
Bom, a cor já não tem a minima importância para os cegos.
Saio para rua, e nada mais tem importância...
Só quero saber dos meus trocados...

De óculos Escuros

Sabe que me sinto mais segura, dando uma de cega...
Não caio nos buracos fundos e nem rasos, estou de olhos abertos...
Me dá uma puta liberdade, vento batendo no rosto..
Sinto uma ladeira, precisome posicionar bem no meio, para ficar bem a vista.

"Bem aventurado é aquele que tem as vista. Na terra de cego, quem é caolho é rei"...

Faço um sotaque popular para ver se amolece a mão de algum pão duro.
Escuto umas moedinhas na minha lata de leite...
Não posso abrir meus olhos, deixo eles bem expremidinhos..

Olha que coisa…tem umas 5 moedas de 10… contra uma de cinquenta…
Como são miseráveis...Que gente mais inútil, nem uma cega toca o coração desse povo.

O bom é que não sou perseverante, me cansei de bancar a cegueta.

Ah, me lembrei que hoje é meu aniversário, vou tomar um pingado com um pão na chapa.
Lá se foram as moedas…
Porra, nem uma festa surpresa me aguarda em casa...
Melhor, não morro disso...

Eu, fui predestinada com a morte da tia Cota.
Ela fez o favor de morrer no dia da minha primeira festinha que não aconteceu.
Caderninho de anotações..
Guardo este maldito dia até hoje.
Cada ano que passa eu fico mais velha e com a visao mais afetada.
É assim que nunca vou me encontrar nestas fotos.
Talvez um óculosde grau, resolva meu problema, amanhã irei no oftalmologista.

Que com a mesma ladainha de sempre…

“E como vão seus pais?”

Morreram `a muitos anos Dr.Archilbado…

“ Ah, sim… Mas e eles estão bem??”

Eu não acredito em vida após a morte Dr. Archibaldo.

“Você sempre foi essa criança educada mais pode me chamar de tio Badico ou de Dr. Badico…Afinal quanto tempo a gente se conhece e você a mesma criança de sempre…”

`E verdade Tio Badico… Mas eu vim até aqui pro senhor renovar os meus óculos…A última vez foi quando minha mãe me trouxe…e isso faz muito tempo.

“ E ela vai bem??”

Com certeza se ele não fosse surdo já estaria morto.

EXISTE DIA PÓS DR. BADICO

Essa armação que o Dr. Badico me deu é bem antiga…
Bom, como cavalo dado não se olha os dentes.
Esta ótima!!…

Só o grau que não bateu…sou indecisa e aquele teste das letrinhas e números sempre me pega…

“ AssiM oU assiM, este ESTá melhor Ou aqueLE” .

Agora atenção redobrada…As calçadas e degraus sofreram modificações…


Adorei a mundança dos planos, me preencheu de alegria, até a maçaneta da minha casa está diferente… não sei se mais alta ou maior.

Imagine as fotos, com certeza vou me encontrar em alguma, com esses óculos.

Assim termino com a cisma de que trocaram as caixas na mudança.

Essa sensação de troca sempre me acompanhou desde criança.
Sempre achei que poderia ter sido trocada na maternidade.
Na adolescência decidi mudar de nome, de sexo e cidade. Mais logo desisti, me fizeram uma oferta maior.

Trocar de mãe.

Espera, isso não é tão simples…
Pense bem, seu tio Aylton esta sozinho no cartório, pode resolver tudinho…depois é so receber a herança …
Sua Tia Betinha esta muito velha, é solteirona, não custa nada dar esse gostinho de felicidade pra ela…
E depois é só receber…


Santa ingenuidade, acreditar nas palavras de uma mãe e um tio trambiqueiro, até hoje não vi a cor do dinheiro.

A Cega

Mais leve e sem palavras, mantenho meus olhos fechados durante uns segundos.
Desta vez, passei horas e não dormi.
O telefone não tocou.
Sempre que durmo, o telefone toca.
Tudo esta muito claro, quase óbvio.
Fecho os olhos novamente.
Isso facilita a minha visão.


Conheci uma cega e sua mãe, ela me contou sua rotina.
Acorda bem cedo, trabalha 8 horas por dia, pega ônibus e odeia lavar louça.
Ela, tem os olhos fundos e um sorriso rasgado, eu tenho os olhos rasos e um sorriso dispensável.

O que ela fazia numa fila de Xerox em uma biblioteca?
Tirava cópias para uma pesquisa e sua mãe lê os textos.

Quando estou no escuro, essa cega me persegue, me diz desaforos, e ganha na corrida.
Se a gente brincar de cabelereira, eu corto suas madeixas de verdade.

A gente já competiu mais...
Hoje em dia...
Dou uma de cega...

Sem o Til

Vou revelar esse negativos e polir esses brasões, talvez eu me encontre em uma das fotos, e se eu estiver lá no fundo, eu vou me ver ….

Na carta, eu nada encontrei de motivador.

Talvez a prima falastrona.

Mas, a que espera pelo marido e acredita na justiça de Deus, não !
Esse tipo de mulher, não faz parte de mim.
Eu não quero acabar minha vida assim, esperando por ele com a carta na mão…
Preciso de uma revelação rápida, vamos aos negativos…

Passo o tempo, a minha procura.
Sinto nauseas, preciso me esvaziar.

Friday, February 03, 2006

Caixa

Não sei de onde vem essas lembranças, vasculho em fotos, bilhetes e nada.
Sinto-me como uma carta amarelada com cheiro de papel velho.
De nada valem essas palavras e imagens…
Não são minhas!
Tenho que me controlar, ando cheia de manias…
Sempre que vejo um album, pego uma para mim.

Todas essas, são fotos furtadas.
Como um alinhavar um tecido ou mesmo uma cicatriz.
Bom, chega de buscar significado em tudo, necessito da síntese.

Mas o que me incomoda, mesmo é o início ...
Sem regressão...
Bom, posso deixar o início de lado e começar pelo fim...

Já que não acabei com a minha vida, abrirei mais uma caixa...Tenho a sensação, que o caminhão de mudança, deixou algumas caixas que não me pertecem.

Como esta aqui…
Tem um caderno.
Não, não é um caderno, é um diário de memórias, trancado e sem a chave.
Uma caixa com brasões enferrujados, uns negativos mofados e uma carta.
Fico com a carta …

A CARTA

Ela espera pelo marido estão casados a pouco tempo ela sabe administrar as finanças melhor que ele,
ela se preocupa com a distância que os separa,
a prima dele vive implicando com ela,
mas ele acredita na verdade e na justiça de Deus.
tem muita saudade e diz que a casa espera por ele.

Maldito seja este homem, ela enlouqueceu e vai morrer no jogada num asilo…

Sobre Vaca Fria

Sobre o Nascimento
Ato de nascer.
Princípio, começo.
Nascença.

Quando nasci,
fui do ventre de minha mãe
para debaixo da cama,
Na fazenda era assim...
não suspirô, tá morto.

A mãe
Só o retrato
Ela sentada estática, com minha irmã com as mãos em seu ombro…

Do pai
Tenho a carteira de trabalho,

Sobre Vaga
Grande onda.
Vacância.
Lugar vazio.

Do tempo que fiquei debaixo da cama,
Todo coberto por panos. só bastou um suspiro,
E o resgistro estava feito.
Comecei a chorar, me desenrolaram dos panos e me trouxeram `a vida .

Tudo registrado em minha memória.
Comecei a chorar, e me desenrolaram dos panos.

Sobre vacância
Estado do que ficou vago ou vazio.

Sobre vaca
A fêmea do touro.

Sobre vacaraí
Tapichí

Sobre tapichí
Novilho retirado semi morto da vaca.

Sobre vaca fria
Retornar ao assunto dito.

Minhas

SOBRE REMINISCENCIAS

O que se conserva na memória.
A faculdade da memoria.
Lembrança vaga.

Fica díficil falar de verdade quando se trata de memórias.
Todos os nomes, fatos e lugares descritos, são exclusivos.
Fazem parte das minhas lembranças.
São vagas, indecisas e quase mentirosas...
aquelas que criei no decorrer da vida,
com um fundo de verdade,
que sou eu.

Como aquele um, que sobrou para contar a história...

Friday, January 27, 2006

Canibalas


Talvez feminino.
De uma mulher
ou duas.
Sobre suas relações, dessas mulheres.
Ou a relação de uma mulher nas três fases.
Fases é bem feminino .
Menina criança, Moça mulher, Senhora mulher.
O que te atormenta,
e o que te ilude.
Será que se ilude com algo?
Claro que se ilude.
Na verdade ilude os outros,
A ilusão é sua expressão.
Será??????
Volto no iludir, do latim illudere, divertir-se com, zombar, lesar.
Dissimular a dor, fingir um gosto amargo.
Fingir do lat. fingire, modelar em barro, representar, imaginar.
Volto nas fases.

Que fase é essa?

de criança inventiva.

Quando menina, perdia horas saltitando como uma bailarina sobre as covas,

Sobre do latim super.

Sempre teve o domínio das coisas,ou, é melhor acretidar nisso.

Mas, imagine se eu estivesse dançando, e de alguma tumba, levantasse um fantasma??

Fugir não adianta...

Então, a menina resolve dançar e assim passa horas e horas dançando.

Fantasma do grego phantasma, visão, pelo.
Imagem fantasiosa e ilusória que infunde terror;
Um produto da imaginação consciente ou inconsciente, uma visão.

Um instrumento de óptica para vida.

Os fantasmas aumentam com a idade.

Ela tem total controle da situação, eles estavam mortos.

Ela e sua Imagem.
imagem do latim imago, imaginis.

Quantas vezes não teria invertido a ordem das coisas...

dasantigas






Nem dia nem noite nem garoa fina molham a neblina de um beco escuro…Mas as circustâncias sim…
Tratam a dor como se tratasse qualquer uma que passe…

PASSADINHA

Do trajeto de volta para casa, pés e canelas sem olhos, pulsam como um corpo, encoxados dentro da condução.
O calor da poltrona, esquenta a coxa suada, que hipnotiza o homem de mãos ousadas.
Como se despertasse do transe, o homem, sentiu sua face corar vendo que suas mãos já não cabiam num bolso.
Em meio de pernas, bundas e cotovelos é jogado num ponto qualquer.
Nem homem cuspido, carteira batida e brecada de ônibus desfaz o nó de gente.
Ponto final e pronto…como camelôs sua joanetes gritavam…”no meio do caminho longe de sua casa, tem um trilho de trem.”

NO CÉU…
Nunca imaginaria que o remédio de seus problemas não viria dos céus.
Como boa carlota, mantinha o olhar rente ao senhor e seguia seu doloroso caminho junto a pesada cruz que a acompanha.
E no passo arrastado vai porta aberta e dona Lorida que sai…e vai carta pisada e dona Lorida que vai…
Pó de arroz de lábios enrugados de batom, vestida de cheiro de lavanda de armário com nafatalina…e lá vai dona Lorida…
Nem olho de gato furado e mulher de barriga vazia, amolecem a casca da fé de dona Lorida.
De encontro com Deus iria…atravessa a avenida…e de cara e braços abertos ao Senhor… No céu, no céu com minha mãe estarei..
O Senhor de placa STWAF4567, usa e abusa de sua serva, levanta sua saia e pica-lhe uma rasteira…e pimba na dona Lorida.

SELMA

Como era linda, a marca que carregava em seu olho esquerdo…
Talvez de roxo para amareloesverdeado acabaria se perdendo.
Se não fosse minha gentileza, em abrir a porta do elevador. E num esbarrão…seu nome…Selma, seu nome era Selma…
O pacote no chão e a sua palidez agora rubra, fitaram meus olhos.
Desse encontro de corpos em diante, sempre que escuto o gordo do seu marido a gritar…Selma!!!…
Me lembro de seu olhar e sinto meu estômago esquentar.Com os punhos cerrados, a vontade de socar- lhe o olho direito.
O que seria daquela mulher???
Mataria aquela dor ou assaltaria um frigorífico? O apetite do gordo seria seu álibe perfeito…
O grito da panela apita de pressão e a tinta vermelha de sangue no avental de carne, abalam a rotina culinária de Selma.Com o vapor frio de suor escorrendo pelo rosto…“Não passa de um mero jantar, Selma…”
A mão trêmula quebra o ovo e a cebola, arranca lágrimas de seus olhos secos…o menu da noite “lágrimas e ovos quebrados”…
Selma olha para sala e vê o músculo de coxao mole deitado no sofa…O que faço com sua glutonice de ema, que digere até pedra???
…“Não passa de um mero jantar, Selma…”
Os bonequinhos cerzidos pelo desejo letal e as batidas do coração de Selma, substituem a reza que antecede a ceia…

Canibalas


MENINA DE PEQUENA,
VIU SUA IMAGEM REFLETIDA E DIVIDA NO FREEZER,
DO BAR INÓSPITO.
ACHOU A SOLUÇÃO PARA SUA SOLIDÃO,
FICAVA HORAS OBSERVANDO AQUELA IMAGEM.
PARADA PETRIFICADA.

AGORA ELA PENSA QUE É DUAS.
NA VERDADE, SÃO UMA.
QUANDO VISTAS SÃO DUAS.
O PENSAMENTO DE UMA, DIVIDO EM DUAS.

BAR WOMAN DE ESTRADA DESERTA, QUE NÃO PARA NEM MOSCA.
QUANDO PARA, COMIDA VIRA.

DUAS BAR WOMEN, DE BEIRA DE ESTRADA, VESTIDAS NO ESTILO RETRÔ, DANÇAM, PASSOS AFRICANOS, AO SOM DE TOM WAITS.