Friday, January 27, 2006

dasantigas






Nem dia nem noite nem garoa fina molham a neblina de um beco escuro…Mas as circustâncias sim…
Tratam a dor como se tratasse qualquer uma que passe…

PASSADINHA

Do trajeto de volta para casa, pés e canelas sem olhos, pulsam como um corpo, encoxados dentro da condução.
O calor da poltrona, esquenta a coxa suada, que hipnotiza o homem de mãos ousadas.
Como se despertasse do transe, o homem, sentiu sua face corar vendo que suas mãos já não cabiam num bolso.
Em meio de pernas, bundas e cotovelos é jogado num ponto qualquer.
Nem homem cuspido, carteira batida e brecada de ônibus desfaz o nó de gente.
Ponto final e pronto…como camelôs sua joanetes gritavam…”no meio do caminho longe de sua casa, tem um trilho de trem.”

NO CÉU…
Nunca imaginaria que o remédio de seus problemas não viria dos céus.
Como boa carlota, mantinha o olhar rente ao senhor e seguia seu doloroso caminho junto a pesada cruz que a acompanha.
E no passo arrastado vai porta aberta e dona Lorida que sai…e vai carta pisada e dona Lorida que vai…
Pó de arroz de lábios enrugados de batom, vestida de cheiro de lavanda de armário com nafatalina…e lá vai dona Lorida…
Nem olho de gato furado e mulher de barriga vazia, amolecem a casca da fé de dona Lorida.
De encontro com Deus iria…atravessa a avenida…e de cara e braços abertos ao Senhor… No céu, no céu com minha mãe estarei..
O Senhor de placa STWAF4567, usa e abusa de sua serva, levanta sua saia e pica-lhe uma rasteira…e pimba na dona Lorida.

SELMA

Como era linda, a marca que carregava em seu olho esquerdo…
Talvez de roxo para amareloesverdeado acabaria se perdendo.
Se não fosse minha gentileza, em abrir a porta do elevador. E num esbarrão…seu nome…Selma, seu nome era Selma…
O pacote no chão e a sua palidez agora rubra, fitaram meus olhos.
Desse encontro de corpos em diante, sempre que escuto o gordo do seu marido a gritar…Selma!!!…
Me lembro de seu olhar e sinto meu estômago esquentar.Com os punhos cerrados, a vontade de socar- lhe o olho direito.
O que seria daquela mulher???
Mataria aquela dor ou assaltaria um frigorífico? O apetite do gordo seria seu álibe perfeito…
O grito da panela apita de pressão e a tinta vermelha de sangue no avental de carne, abalam a rotina culinária de Selma.Com o vapor frio de suor escorrendo pelo rosto…“Não passa de um mero jantar, Selma…”
A mão trêmula quebra o ovo e a cebola, arranca lágrimas de seus olhos secos…o menu da noite “lágrimas e ovos quebrados”…
Selma olha para sala e vê o músculo de coxao mole deitado no sofa…O que faço com sua glutonice de ema, que digere até pedra???
…“Não passa de um mero jantar, Selma…”
Os bonequinhos cerzidos pelo desejo letal e as batidas do coração de Selma, substituem a reza que antecede a ceia…

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