Wednesday, February 08, 2006

De grau

E o telefone que não toca...
AHHHHHHH...
Vou continuar de olhos semi abertos ou semi cerrados, talvez sempre fechados.
Dar uma de cega...
Isso, só uma volta no sofá, quem sabe bate um vento e eu fico cega para sempre…

Assim posso ganhar a vida com esmolas. Não vai ser sempre, e nem precisa ser perto de casa.
Visto meu pullover rosa e meus óculos escuros...
Bom, a cor já não tem a minima importância para os cegos.
Saio para rua, e nada mais tem importância...
Só quero saber dos meus trocados...

De óculos Escuros

Sabe que me sinto mais segura, dando uma de cega...
Não caio nos buracos fundos e nem rasos, estou de olhos abertos...
Me dá uma puta liberdade, vento batendo no rosto..
Sinto uma ladeira, precisome posicionar bem no meio, para ficar bem a vista.

"Bem aventurado é aquele que tem as vista. Na terra de cego, quem é caolho é rei"...

Faço um sotaque popular para ver se amolece a mão de algum pão duro.
Escuto umas moedinhas na minha lata de leite...
Não posso abrir meus olhos, deixo eles bem expremidinhos..

Olha que coisa…tem umas 5 moedas de 10… contra uma de cinquenta…
Como são miseráveis...Que gente mais inútil, nem uma cega toca o coração desse povo.

O bom é que não sou perseverante, me cansei de bancar a cegueta.

Ah, me lembrei que hoje é meu aniversário, vou tomar um pingado com um pão na chapa.
Lá se foram as moedas…
Porra, nem uma festa surpresa me aguarda em casa...
Melhor, não morro disso...

Eu, fui predestinada com a morte da tia Cota.
Ela fez o favor de morrer no dia da minha primeira festinha que não aconteceu.
Caderninho de anotações..
Guardo este maldito dia até hoje.
Cada ano que passa eu fico mais velha e com a visao mais afetada.
É assim que nunca vou me encontrar nestas fotos.
Talvez um óculosde grau, resolva meu problema, amanhã irei no oftalmologista.

Que com a mesma ladainha de sempre…

“E como vão seus pais?”

Morreram `a muitos anos Dr.Archilbado…

“ Ah, sim… Mas e eles estão bem??”

Eu não acredito em vida após a morte Dr. Archibaldo.

“Você sempre foi essa criança educada mais pode me chamar de tio Badico ou de Dr. Badico…Afinal quanto tempo a gente se conhece e você a mesma criança de sempre…”

`E verdade Tio Badico… Mas eu vim até aqui pro senhor renovar os meus óculos…A última vez foi quando minha mãe me trouxe…e isso faz muito tempo.

“ E ela vai bem??”

Com certeza se ele não fosse surdo já estaria morto.

EXISTE DIA PÓS DR. BADICO

Essa armação que o Dr. Badico me deu é bem antiga…
Bom, como cavalo dado não se olha os dentes.
Esta ótima!!…

Só o grau que não bateu…sou indecisa e aquele teste das letrinhas e números sempre me pega…

“ AssiM oU assiM, este ESTá melhor Ou aqueLE” .

Agora atenção redobrada…As calçadas e degraus sofreram modificações…


Adorei a mundança dos planos, me preencheu de alegria, até a maçaneta da minha casa está diferente… não sei se mais alta ou maior.

Imagine as fotos, com certeza vou me encontrar em alguma, com esses óculos.

Assim termino com a cisma de que trocaram as caixas na mudança.

Essa sensação de troca sempre me acompanhou desde criança.
Sempre achei que poderia ter sido trocada na maternidade.
Na adolescência decidi mudar de nome, de sexo e cidade. Mais logo desisti, me fizeram uma oferta maior.

Trocar de mãe.

Espera, isso não é tão simples…
Pense bem, seu tio Aylton esta sozinho no cartório, pode resolver tudinho…depois é so receber a herança …
Sua Tia Betinha esta muito velha, é solteirona, não custa nada dar esse gostinho de felicidade pra ela…
E depois é só receber…


Santa ingenuidade, acreditar nas palavras de uma mãe e um tio trambiqueiro, até hoje não vi a cor do dinheiro.

A Cega

Mais leve e sem palavras, mantenho meus olhos fechados durante uns segundos.
Desta vez, passei horas e não dormi.
O telefone não tocou.
Sempre que durmo, o telefone toca.
Tudo esta muito claro, quase óbvio.
Fecho os olhos novamente.
Isso facilita a minha visão.


Conheci uma cega e sua mãe, ela me contou sua rotina.
Acorda bem cedo, trabalha 8 horas por dia, pega ônibus e odeia lavar louça.
Ela, tem os olhos fundos e um sorriso rasgado, eu tenho os olhos rasos e um sorriso dispensável.

O que ela fazia numa fila de Xerox em uma biblioteca?
Tirava cópias para uma pesquisa e sua mãe lê os textos.

Quando estou no escuro, essa cega me persegue, me diz desaforos, e ganha na corrida.
Se a gente brincar de cabelereira, eu corto suas madeixas de verdade.

A gente já competiu mais...
Hoje em dia...
Dou uma de cega...

Sem o Til

Vou revelar esse negativos e polir esses brasões, talvez eu me encontre em uma das fotos, e se eu estiver lá no fundo, eu vou me ver ….

Na carta, eu nada encontrei de motivador.

Talvez a prima falastrona.

Mas, a que espera pelo marido e acredita na justiça de Deus, não !
Esse tipo de mulher, não faz parte de mim.
Eu não quero acabar minha vida assim, esperando por ele com a carta na mão…
Preciso de uma revelação rápida, vamos aos negativos…

Passo o tempo, a minha procura.
Sinto nauseas, preciso me esvaziar.

Friday, February 03, 2006

Caixa

Não sei de onde vem essas lembranças, vasculho em fotos, bilhetes e nada.
Sinto-me como uma carta amarelada com cheiro de papel velho.
De nada valem essas palavras e imagens…
Não são minhas!
Tenho que me controlar, ando cheia de manias…
Sempre que vejo um album, pego uma para mim.

Todas essas, são fotos furtadas.
Como um alinhavar um tecido ou mesmo uma cicatriz.
Bom, chega de buscar significado em tudo, necessito da síntese.

Mas o que me incomoda, mesmo é o início ...
Sem regressão...
Bom, posso deixar o início de lado e começar pelo fim...

Já que não acabei com a minha vida, abrirei mais uma caixa...Tenho a sensação, que o caminhão de mudança, deixou algumas caixas que não me pertecem.

Como esta aqui…
Tem um caderno.
Não, não é um caderno, é um diário de memórias, trancado e sem a chave.
Uma caixa com brasões enferrujados, uns negativos mofados e uma carta.
Fico com a carta …

A CARTA

Ela espera pelo marido estão casados a pouco tempo ela sabe administrar as finanças melhor que ele,
ela se preocupa com a distância que os separa,
a prima dele vive implicando com ela,
mas ele acredita na verdade e na justiça de Deus.
tem muita saudade e diz que a casa espera por ele.

Maldito seja este homem, ela enlouqueceu e vai morrer no jogada num asilo…

Sobre Vaca Fria

Sobre o Nascimento
Ato de nascer.
Princípio, começo.
Nascença.

Quando nasci,
fui do ventre de minha mãe
para debaixo da cama,
Na fazenda era assim...
não suspirô, tá morto.

A mãe
Só o retrato
Ela sentada estática, com minha irmã com as mãos em seu ombro…

Do pai
Tenho a carteira de trabalho,

Sobre Vaga
Grande onda.
Vacância.
Lugar vazio.

Do tempo que fiquei debaixo da cama,
Todo coberto por panos. só bastou um suspiro,
E o resgistro estava feito.
Comecei a chorar, me desenrolaram dos panos e me trouxeram `a vida .

Tudo registrado em minha memória.
Comecei a chorar, e me desenrolaram dos panos.

Sobre vacância
Estado do que ficou vago ou vazio.

Sobre vaca
A fêmea do touro.

Sobre vacaraí
Tapichí

Sobre tapichí
Novilho retirado semi morto da vaca.

Sobre vaca fria
Retornar ao assunto dito.

Minhas

SOBRE REMINISCENCIAS

O que se conserva na memória.
A faculdade da memoria.
Lembrança vaga.

Fica díficil falar de verdade quando se trata de memórias.
Todos os nomes, fatos e lugares descritos, são exclusivos.
Fazem parte das minhas lembranças.
São vagas, indecisas e quase mentirosas...
aquelas que criei no decorrer da vida,
com um fundo de verdade,
que sou eu.

Como aquele um, que sobrou para contar a história...